“Quantos grãos de areia tem esta praia?” Perguntou Anna com genuína curiosidade, mal chegaram à pequena baía da Calheta, na ilha da Madeira. Os seus pais sorriram e olharam um para o outro na expetativa de que um deles avançasse com a resposta. A verdade é que Anna estava apenas a expressar, ao jeito de uma criança de 5 anos, a mesma admiração sentida pelos seus pais ao ver ali aquela extensão de areia amarela.

 

Numa ilha de origem vulcânica em que a costa é uma linha recortada de rochedos, pequenos calhaus pretos e areia escura, donde vinham estes grãos dourados? Será um capricho da natureza que apenas acontece nesta pequena costa virada a sul, em pleno Atlântico? Ou antes a forma que alguém encontrou para juntar mais hipóteses de diversão a uma natureza em estado bruto?

Seja como for, aquele areal era a promessa de muitos castelos, pequenas poças e uma tartaruga gigante, coberta de conchas. Ou, na perspetiva de Matias, o irmão de Anna, três anos mais velho, o terreno perfeito para longas pistas de fórmula 1, um campo de futebol e algumas mensagens para os extraterrestres que nos observam lá de cima.

E se o pai queria juntar a estas atividades uns passeios de stand up paddle e a leitura do livro que começou nas férias passadas, já a mãe preferia passar o dia entre as piscinas e o spa do hotel, a dois passos da praia. Após reunião familiar, a solução foi simples de encontrar: podiam fazer um pouco de tudo, que ali tanto se podia satisfazer os desejos de crianças com energia inesgotável, como de adultos a precisar de carregar baterias. Aliás essa era uma das principais missões desta viagem a 4: rumar a um destino que incluísse sol, temperaturas amenas, diversão para todos, descanso para quem mais merece, ótima gastronomia e bons passeios. Tudo incluído?... Tudo, menos stress.

 

Rapidamente descobriram que podiam passar largos dias sem sair daquela baía tranquila, de frente para um mar cristalino e protegidos por um cenário de rochas escarpadas. Afinal, não faltavam momentos de entretenimento, refeições deliciosas, tanto da ilha como de outros países, snacks, bebidas para refrescar e o indispensável kids club. Se é verdade que a sorte dá muito trabalho, era chegado o momento dos pais da Anna e do Matias aproveitarem a sua.

 

Mas havia muito mais, e não era preciso afastarem-se daquele recanto da ilha. Ao lado, a marina com as embarcações de recreio e os barcos de pesca que trazem todos os dias uma enorme variedade de peixes que chegam à mesa dos restaurantes do hotel, na sua máxima frescura.

Caminhando um pouco, encontrariam um local de enorme importância para entender a história da Calheta (aliás, uma das zonas mais antigas da Madeira, habitada pelos primeiros colonos). Um engenho com quase 120 anos que ainda produz mel e o saboroso rum da Madeira a partir da cana sacarina. E onde se pode aprender como se produzia o açúcar, em tempos considerado o ouro branco, tal era o seu valor.

Subindo um pouco, poderiam visitar o MUDAS, Museu de Arte Contemporânea da Madeira com a sua arquitetura premiada (medalha Alvar Aalto, 2012) e uma excelente vista sobre a enseada e o oceano.

E mais haveria, mas isso já seriam outras descobertas, outros programas fora daquela baía que logo os conquistou.

 

Na última noite em que ficaram na ilha, os quatro foram passear até à praia. Estava uma noite magnífica, de céu limpo e estrelado. O pai pegou numa mão cheia de areia e disse à Anna: “Segundo um grande sábio chamado Carl Sagan, só nesta mão estão à volta de 10 000 grãos de areia”. Anna ficou espantada com um número tão grande. “São realmente muitos.” Acrescentou o pai, “Mas agora, faço-vos eu uma pergunta: será que há mais grãos de areia na terra ou estrelas no céu?”

 

Anna e Matias olharam para o céu e começaram a contar...